No cabeço da Penenciada, solitário e distinto, o castelo de Algoso marca o lugar privilegiado que há milhares de anos vem sendo ocupado por diferentes povos. Primeiro foram populações proto-históricas e romanas que aí deixaram vestígios em cerâmica e bronze fundido; depois, comunidades medievais que, nesse cume com vista para o rio Rio Angueira, ergueram a fortificação que muitos consideram ainda hoje uma das maravilhas de Portugal.
Em Terras de Miranda, essa porção de paisagem do concelho de Vimioso, no distrito de Bragança, afirmou-se a partir do século XII como morada da autoridade real no território. Até então, o pequeno castelo construído por Mendo Bofino era sobretudo um símbolo da luta de D. Afonso Henriques pela autonomia do Condado Portucalense face ao reino de Leão, mas, por volta de 1224, quando D. Sancho II doou a fortificação à Ordem dos Hospitalários, já num Portugal soberano, o edifício passou a dispor da torre de menagem heptagonal e da cisterna abobada que continuam o caracterizá-lo e fazem dele um dos mais importantes monumentos do Leste transmontano.
Sem batalhas para apoiar contra os espanhóis, essa residência de feições góticas tornar-se-ia um castelo de segunda linha no século XIII, acabaria abandonada no XVII e viria ainda a sofrer mesquinhos saques em 1710, por altura da invasão espanhola gerada pela Guerra dos Sete Anos. Isso não impediria o castelo, contudo, de manter intacto o perene estatuto de ex libris de Algoso e de motivo inspirador do brasão da aldeia, cujo desenho exibe a cruz específica da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, Rodes e Malta.
Na atualidade, e depois de ter sido sede do concelho homónimo até ao século XIX, Algoso continua pouco populosa e tranquila, apelando a momentos de introspeção incentivados por dois fatores distintos: por um lado, a paisagem natural da Meseta Ibérica, com a sua rica biodiversidade, e, por outro, a abundância de templos religiosos como as capelas de Nossa Senhora da Assunção, S. João e S. Roque, e as igrejas da Misericórdia e de Algoso. Talvez por isso, a aldeia sempre foi convidativa no Caminho de Santiago, constituindo um ponto de passagem obrigatório para os peregrinos que, de pés doridos, procuram bálsamo na chamada Fonte Santa.
É em torno do Pelourinho de Algoso, de traça manuelina e classificado desde 1933, que se dispõe, no entanto, a urbe agora habitada por não mais do que umas 200 pessoas, que, tendo resistido à intensa emigração para França e Brasil na década de 1960, vivem hoje resguardadas por casinhas de granito e reboco branco, muitas vezes com janelas de caixilharia em madeira. Por aí há para apreciar o edifício que até 1855 funcionou como Paços do Concelho, a casa senhorial que foi Palácio dos Távoras e as ruínas do Convento de Algoso, assim como a ponte medieval junto à qual ainda se distingue uma calçada de aparência mais antiga.
Quanto ao património imaterial do povoado, que está classificado como “Aldeia de Portugal” desde 2023, é rico em histórias e tradições, como revelarão os habitantes da terra quando questionados sobre as vivências locais. Mas os tímidos e pouco conversadores também poderão descobrir essas curiosidades visitando marcos do calendário anual de Algoso como as feiras mensais do dia 9, o Leilão do Ramo de S. João no Domingo de Carnaval, o Sábado de Aleluia na Páscoa, o Mercado Medieval de abril e até a Feira das Rosquilhas, quando a cruz em procissão é decorada com pães que depois vão a leiloar na aldeia vizinha de Argozelo.
Esses e outros bens alimentares têm muitas vezes origem em ingredientes criados na própria região, já que 1/3 da população ativa de Algoso continua a ter na agricultura a sua principal atividade, produzindo cereais, azeite, amêndoa e cortiça. A essa lida junta-se ainda a da agropecuária, atualmente dinamizada por jovens empresários.
Quem não tem tempo para criar e prefere caçar, há na aldeia montarias ao javali, o que faz com que essa carne integre alguns pratos da gastronomia típica local. Refeições robustas recomendam-se, aliás, para quem, em alternativa aos passeios de burro ou aos banhos na praia fluvial de Uva, quiser dedicar várias horas a birdwatching na zona ou lançar-se em caminhadas e percursos pedestres como o Trilho PR3 VMS, que, passando pelo castelo de Algoso, também explora esse ícone da arquitetura vernacular que são os tradicionais pombais de Uva – localidade contígua onde ainda se fala essa segunda língua oficial portuguesa que é o cada vez mais raro Mirandês. ■