Rodeada por património natural emoldurado pelo rio Douro e pelas árvores na sua margem, a aldeia de Areja, na freguesia da Lomba, tem um longo passado de comércio incentivado pelo tráfego de barcos e pelo transporte fluvial de mercadorias. Numa encosta íngreme do concelho de Gondomar, no distrito do Porto, essa povoação mantém um pequeno cais agora mais dedicado à acostagem de embarcações de recreio e lazer, mas a população ainda usufrui do rio para complemento da sua subsistência, pescando nele o peixe que depois serve à mesa com legumes das hortas locais.
Comodamente próxima de centros urbanos mais cosmopolitas, como Gondomar, Porto e Vila Nova de Gaia, esta Aldeia de Portugal contrasta com o ambiente citadino pelo seu pitoresco rural, apresentando-se como um refúgio tranquilo, em que predomina o ar puro, a tradição e a familiaridade. É certo que a pesca e a agricultura são hoje atividades com menos peso no quotidiano da localidade, mas a memória dos tempos antigos ainda se denuncia na arquitetura típica de Areja, feita sobretudo de casas modestas dispostas por diferentes patamares da encosta, alguns solares antigos envoltos por quintas e muitas ruas estreitas e curvilíneas.
Segundo os registos históricos da terra, aí terá vivido o Conde D. Henrique, senhor do Condado Portucalense, o que não será de estranhar face à beleza da respetiva paisagem, a sua fertilidade e o facilitado acesso ao local tanto por terra como por água. As mesmas características terão ajudado a que, desde tempos bem mais remotos, se fixassem no território romanos, suevos e mesmo godos, após a conquista da então chamada “Arégia” ou “Anégia” pelo primeiro monarca desse povo, o rei Leovigildo.
Imaginando o rico passado da aldeia, os atuais visitantes de Areja são assim convidados a percorrer a zona sem pressas, subindo o monte para usufruir de vistas deslumbrantes e relaxando mais abaixo nas margens frescas do Douro. É por esse rio que a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes se desloca na terceira semana de julho, numa procissão em barcos engalanados de flores, para abençoar os que vivem do rio e suas famílias. A santa que protege contra tempestades e outros perigos das águas junta-se depois a outros andores, para uma missa campal ao lado da capelinha descoberta onde se agradecem as dádivas e bênçãos de Areja.
A música que acompanha essa romaria pode ser da Banda Musical Mineiros do Pejão ou de artistas convidados, mas, nos meses de calor que antecedem as desfolhadas à moda antiga, o mais provável é que os concertos se realizem no palco flutuante instalado junto ao cais de Areja, para valorização máxima do enquadramento fluvial da aldeia. Esse também é um dos palcos principais das festas em honra de Santo António, Santa Eufémia e São João, assim como do evento “Areja em Festa”, que recupera tradições, ofícios e produtos da aldeia, e do Festival Peixe do Rio, iniciativa emblemática do povoado pela sua vertente gastronómica dedicada à em especial à lampreia, ao sável, à tainha e ao lúcio. ■