Argas representa uma classificação especial entre todos os povoados certificados pela marca "Aldeias de Portugal”, já que envolve não apenas um povoado, mas três: Arga de Baixo, Arga de Cima e Arga de S. João. O que se denomina generalizadamente como “as Argas” constitui assim um tríptico de aldeias que, no concelho de Caminha, no distrito de Viana do Castelo, apresentam uma interligação especial e muito próxima, o que, só por si, já as torna especiais no território português.
Tipicamente rurais, as Argas caracterizam-se pelas suas habitações tradicionais, por uma atividade vincadamente agrícola e por um contexto paisagístico em que predomina a natureza tranquila, rica em campos de cultivo, lameiros e bosques naturais, e habitada por fauna e flora distintivas, em que se destacam o lobo ibérico e plantas como a chupadeira-do-Minho (Scrophularia bourgaeana) e o feto Dryopteris carthusiana, raro no resto do país e em grave risco de extinção em Portugal.
Pormenores sobre essas e outras espécies descobrem-se com fascínio no Centro de Interpretação da Serra d’Arga, na Arga de Baixo, que assim funciona como o melhor preâmbulo possível para descobrir esta região da Rede Natura 2000 através de vários percursos pedestres, como o Trilho da Pedra Alçada, o do Chã Grande, o da Chã da Franqueira e o do Cabeço do Meio-Dia. Essas caminhadas permitirão constatar a riqueza florística desta serra minhota, com as suas 546 espécies de plantas vasculares, incluindo 32 de grande raridade ou em estado crítico de conservação.
O património edificado destas aldeias também é, contudo, digno de nota e, numa localização marcada ao mesmo tempo pelo contraste com o fundo verde da serra e pela camuflagem proporcionada pelo arvoredo, a principal referência a esse nível é o Mosteiro de S. João d’Arga. De estilo beneditino, românico e barroco, essa estrutura começou a ser construída no século XIII, sofreu alterações significativas nos séculos XIV e XVIII, e está classificada como Monumento Nacional desde 2013 pela sua condição inconfundível de santuário de montanha.
De traça mais popular são os moinhos dispostos pelos principais cursos de água em torno das Argas, muitos deles cobertos com lajes de xisto que são típicas da arquitetura tradicional serrana. Algumas dessas construções proporcionam cenários ideais para piqueniques e merendas, em que não deve faltar a broa local, o chouriço regional e, com jeitinho, uma travessa de cabrito assado regado a vinho verde e rematado por aguardente com mel.
Mas para ver há ainda uma série de alminhas, cruzeiros e capelas ao longo dos caminhos que rasgam o território, assim como pontes e pontões que permitem o atravessamento pedonal das várias linhas de água que sulcam a serra até à foz do rio Âncora. Em terra firme, aqui e ali, também uma ou outra manada de garranos a pastar em sossego.
Se a visita for em agosto, há que incluir na agenda a Romaria de S. João d’Arga, que é uma das mais célebres da região e reforça com muitos forasteiros a modesta população das três Argas, que, em conjunto, habitualmente não ultrapassam os 200 habitantes. Essa festa popular atrai vizinhos e turistas pelo seu ambiente despretensioso e genuíno, e preserva costumes antigos como o de os romeiros dormirem na envolvente no Mosteiro, entretendo-se com cantigas ao desafio acompanhadas por concertinas.
Mesmo com o nevoeiro das manhãs húmidas, há que conhecer igualmente a “Arte na Leira”, mostra de artes plásticas que o pintor Mário Rocha organiza anualmente entre finais de julho e finais de agosto. Obras de vários autores distribuem-se nessa altura pelos espaços tradicionais de uma genuína casa de campo e até pelo coreto da vizinhança, provando que arte contemporânea também tem palco no meio rural. ■