Garças brancas, gatos-bravos, lontras, enguias e bogas – esta é apenas uma pequena lista entre as espécies que compõem a biodiversidade da Reserva Natural do Paul de Arzila, que retira o seu nome à aldeia do concelho e distrito de Coimbra habitada desde os tempos da ocupação moura. A origem etimológica de “Arzila” não está apurada com certeza, mas supõe-se que essa toponímia seja inspirada na povoação homónima de Marrocos, o que fará sentido tendo em conta o longo domínio sarraceno no período em que o território conimbricense era ocupado por árabes.
Certo é que a marca mais distintiva deste povoado classificado como “Aldeia de Portugal” é o referido Paul, de Arzila cuja reputação internacional se deve a mais de 100 espécies de aves sedentárias e migratórias, assim como à presença de um vasto grupo de mamíferos, peixes, anfíbios e répteis.
Essa zona de férteis terrenos alagadiços era assim propícia a diferentes habitats animais, mas também favorecia a vegetação, já que dos campos do paul sempre se retiraram caniços e bunhos com que os artesãos de Arzila e da vizinhança continuam a fabricar cestos e esteiras, que exibem com particular orgulho na feira anual de setembro dedicada a esses produtos.
Caça, pesca e agricultura, em especial a colheita de bunho e junco, vêm sendo, portanto, as principais fontes de rendimento das famílias da aldeia, habituadas depois a retemperar forças com uma gastronomia rica em que se destacam as papas laberças, a ruivaca frita com broa de milho, a enguia igualmente frita e ainda o arroz doce.
Se esses pratos não são dos menos calóricos da dieta regional, há bom remédio: a Associação Amigos do Paul de Arzila organiza regularmente caminhadas e visitas guiadas à reserva natural, podendo tais passeios complementar-se com outros percursos pedestres ao longo do território envolvente.
Na aldeia em si também se pode fazer exercício, caminhando entre as humildes e pitorescas casas de pedra com portadas em madeira, percorrendo as estreitas ruas ladeadas de quintais, visitando a Ponte do Paço e contornando a Igreja Matriz de Arzila, que, datada de 1672, devota o seu altar principal a Nossa Senhora da Conceição.
É essa santa que motiva a principal romaria da aldeia, embora o calendário de festividades de Arzila também inclua a já mencionada Festa da Esteira, o Festival de Folclore, o encontro gastronómico "Papas e Sopas" e a tradicional Fogueira de Natal. Todos esses momentos constituem uma oportunidade para conhecer o empenhado tecido associativo local e a simpática comunidade de residentes, sempre dispostos a conhecer forasteiros e a contar-lhes as melhores histórias da terra. ■