Vales da era glaciar, mamoas pré-históricas e abelhas mansas são apenas alguns dos aspetos que tornam única a aldeia de Branda da Aveleira, no concelho de Melgaço, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês. Neste território da freguesia da Gave e do distrito de Viana do Castelo, a paisagem ainda preserva efeitos das transformações geológicas a que o planeta foi sujeito há mais de 10.000 anos, como é visível no desenho dos seus vales, e também guarda indícios dos primeiros habitantes do território, como os que aí ergueram a bem preservada Mamoa do Batateiro.
Esse monumento de culto religioso e fúnebre está situado num campo que lembra que desde tempos assim longínquos Branda da Valeira é terra de agricultura. Batata biológica, uva e mel são o que mais se produz hoje na aldeia, mas os seus terrenos também servem de pasto às raças autóctones, que são as vacas cachenas e os cavalos garranos. Esse pastoreio explica, por sua vez, que extensas áreas agrícolas ainda sejam pontuadas por algumas cardenhas, para abrigo momentâneo dos pastores em dias de tempo mais agreste.
Se essas pequenas construções em pedra estão vazias na maior parte do tempo, situação parecida se vive nas casas do centro da aldeia, já que a maioria da população original da Branda da Aveleira passou a residir nos arredores, noutras zonas de Gave. Isso não impede a comunidade, contudo, de se manter ativa na preservação e dinamização do seu povoado de origem, nomeadamente conservando o seu edificado e promovendo os costumes e tradições locais.
Sinal disso é que as famílias locais continuam a ter duas casas: a branda, para os meses de verão, e a inverneira, para os períodos mais frios. Essa prática social permanece desde os tempos em que a agricultura era a única atividade da região e demonstra como a transumância de pessoas e animais persiste no território, levando os pastores a deslocarem o seu pouso consoante o que a terra oferece em cada época do ano. Isso explica também, desde o século XII, a tendência dos brandeiros para subirem com os rebanhos até aos pastos mais elevados e frios, libertando os terrenos baixos para o cultivo agrícola, que requere temperatura mais amena.
Devido a essas flutuações, Branda da Aveleira revela-se particularmente tranquila entre as suas cerca de 80 casas rústicas, umas de arquitetura tipicamente minhota, com dois pisos bem construídos, e outras sendo cardenhas antigas, que os proprietários adaptaram para habitação adicional ou alojamento turístico. Essas cardenhas constituem assim um recurso genuíno e incomparável, que dá a conhecer ao hóspede a vivência real da pastorícia – e até lhe permitirá experimentar uma crossa, que é o capuz de palha usado pelos pastores para se protegerem do frio.
Mas na Branda da Aveleira há muito mais para descobrir além da sua pacatez: há fauna e flora para identificar no seu estado mais puro, fenos para recolher, a cascata onde ir a banhos, percursos pedestres como o Trilho da Aveleira e o que dá a conhecer o Vale Glaciar do Vez, fumeiros onde se apura o sabor dos melhores enchidos, um forno de telha onde se confeciona broa de milho e outros pratos da terra e uma casa onde ainda se faz o pão com sangue de porco a que chamam pelouro ou bica.
Na aldeia que é um autêntico museu-vivo da ruralidade portuguesa, há duas outras propostas curiosas a incluir em qualquer roteiro de visita: a atividade radical proporcionada pelos 320 metros do slide sobre o rio Aveleira e a menos arriscada experiência de abrir um apiário de abelhas mansas, sem fato de proteção, luvas ou máscara de apicultura. Tal desprendimento só é possível porque a abelha em causa – denominada “Buckfast”, em honra do monge do convento homónimo que a desenvolveu no Reino Unido através do cruzamento entre várias espécies – é tão dócil que facilmente pousará nas mãos e braços de quem lhe incomoda a colmeia, sem que disso resulte nada mais além de surpresa, espanto e o acesso a um mel brilhante de rara e superior qualidade. ■