A aldeia de Chacim guarda essa pérola do património português que é o seu Real Filatório. Classificada como Imóvel de Interesse Público, a ruína do edifício construído em 1788 exibe o que a Direção-Geral do Património Cultural define como arquitetura industrial setecentista. “[É uma] Fábrica de fiação de seda com aproveitamento da água como força motriz, de planta retangular, três pisos e cave”, diz esse organismo do Estado. “Trata-se de um dos poucos testemunhos da atividade proto-industrial em Trás-os-Montes, com especial interesse por se tratar de um edifício de grandes dimensões construído ou adaptado para albergar uma escola e fábrica de fiação de seda. Introduzia-se em Portugal, por vontade régia, metodologias e técnicas atualizadas, importadas diretamente de Itália, na altura o principal produtor de seda na Europa”.
No sopé da serra de Bornes, no município de Macedo de Cavaleiros, descobre-se assim uma faceta pouco divulgada da história da economia nacional, expressa no que ainda persiste de um complexo que, em tempos dedicado exclusivamente à transformação e manufatura da seda, é ainda hoje um importante exemplar da indústria de sericicultura europeia. Isso fica claro após a visita ao Centro Interpretativo do Real Filatório de Chacim, que, mesmo ao lado da ruína, revela dados sobre a antiga fábrica e sobre o espólio recolhido nas intervenções arqueológicas aí realizadas ao longo das últimas décadas.
Entre a paisagem desse povoado do distrito de Bragança classificado como “Aldeia de Portugal”, há, contudo, cenários mais bucólicos, como o proporcionado pelo riacho de Chacim, as searas da envolvente, os seus olivais e vinhedos, e os pastos pontuados por diferentes animais.
Passeando pela terra, a essência rural da localidade realça ainda mais o valor histórico de património como o Convento de Balsamão e o respetivo museu, ambos integrados na casa de retiro e repouso da Congregação dos Marianos da Imaculada Conceição, no topo de uma colina rodeada por socalcos verdes com um bosque rico de árvores de várias espécies.
Os vestígios do tempo na arquitetura local descobrem-se ainda nas pontes medievais do Bairrinho e da Paradinha, na Capela do Desterro e no Pelourinho de Chacim, também classificado como Imóvel de Interesse Público.
O artesanato local, igualmente com séculos de tradição, evidencia a longa reputação têxtil da terra, revelando-se sobretudo em artigos de tecelagem, bordados e peças de costura. Esses e outros exemplos de ofícios e manualidades descobrem-se com particular abundância dos dois grandes eventos de Chacim: a Feira de São José, realizada a cada 19 de março, e a Feira das Cebolas, que, desde o início do século XIX, a cada 10 de setembro reúne toneladas desse vegetal – não só para o escoar por grossistas, empresários da restauração e setor alimentar, e consumidores finais, mas também para premiar os agricultores que cultivaram os maiores exemplares e entrançaram as réstias mais bonitas. ■