Terra de herança templária, Couto do Mosteiro diz muito da sua origem no próprio nome. Nele se combina a referência ao mosteiro que em 1150 aí foi construído pela Ordem dos Templários e a menção ao couto que D. Afonso III instituiu em 1255 para confiar os seus férteis terrenos aos bispos de Coimbra.
Menos de três séculos depois, o povoado era elevado à categoria de vila e, por foral de D. Manuel em 1514, tornava-se sede de um concelho homónimo, que só bem mais tarde, em 1836, seria extinto para dar lugar ao atual município de Santa Comba Dão, no distrito de Viseu.
Couto do Mosteiro manteve, entretanto, a sua reputação fidalga. Isso percebe-se à primeira vista perante património de tão nobre traça como o edifício da antiga câmara municipal, que também já funcionou como prisão e escola primária; o Solar dos Costas, casa nobre rural construída no século XVIII; e a Igreja Matriz, que, após uma reconstrução em 1661, continua no preciso local que em tempos foi a casa dos monges templários.
Na paisagem arquitetónica de Couto do Mosteiro destaca-se ainda o pelourinho manuelino, que assinala o estatuto conferido à terra pelo foral real do século XIII, e a Casa dos Arcos, que, edificada no século XVII, é conhecida por em 1693 ter albergado D. Catarina de Bragança, viúva de Carlos II de Inglaterra, no seu regresso a Portugal.
Mais tarde, em 1824, o proprietário desse solar foi agraciado com o título de Barão de Santa Comba, mas, com ou sem cartão-de-visita nobiliárquico, outros solares acarinhados em Couto do Mosteiro são o dos Festas, o dos Varela Dias e o do Outeiro, que tem capela própria.
Atualmente com cerca de 90 habitantes, esta “Aldeia de Portugal” ainda dedica parte da sua rotina diária à agricultura, no que a produção vinícola ocupa lugar especial, e participa igualmente na vida associativa local, muito centrada em atividades relacionadas com a paróquia. Momentos em que o espírito comunitário se vive com particular entusiasmo são, nesse contexto, as festividades em honra de São Brás, de capela bem aprumada por esses dias, e até as Festas de Santa Cruz, no povoado vizinho, onde “a cruz-mãe do Couto do Mosteiro é beijada pela cruz-filha do Vimieiro”. No primeiro domingo de maio, a população de uma localidade vai, por isso, ao povoado do outro do lado do Dão, em cumprimento de um ritual antigo com origem nas bênçãos pagãs dos campos de cultivo.
Para momentos mais meditativos, Couto do Mosteiro também tem muitas opções: o pequeno passadiço de madeira junto à Ribeira das Hortas, entre a antiga Câmara e a Rua dos Aldrógãos; os miradouros da Colmeosa e do Outeirinho; a ponte sobre o rio Criz; o troço local da albufeira da Barragem da Aguieira; e a zona balnear da Senhora da Ribeira, onde se cruzam o Criz, o Dão e o Mondego.
O percurso da Ecopista do Dão é outra alternativa de lazer, com os seus 49 quilómetros de trajeto natural sobre a antiga linha ferroviária de Viseu a Santa Comba Dão, desativada em 1988 e transformada em percurso ciclável em 2011.
Chegada então a hora de retemperar energias, a gastronomia local prima por pratos como caldeirada de borrego, carolos com barriga de porco e as típicas broínhas de Santa Comba. Mas produtos típicos do Couto do Mosteiro também são o vinho, o azeite, a castanha, a maçã e os cogumelos.
Muito desses hortícolas já existiam pela terra no tempo das invasões francesas. E, a esse propósito, conta a história que, a 19 de setembro de 1810, quando tropas napoleónicas andavam por Couto do Mosteiro, os portugueses lhes fizeram uma emboscada na estrada para Vale da Mó, resultando da peleja a morte de vários franceses. A vingança veio no dia seguinte. Os homens de Bonaparte capturam alguns portugueses no lugar da Portela e logo os enforcaram no monte que hoje é conhecido como o Cabeço da Forca. Também neste caso, a toponímia diz muito da história do lugar – e preserva memórias que há que conhecer e respeitar. ■