Podem não conhecer a aldeia, mas conhecem-lhe a fruta. Como alguém disse uma vez, a maçã é a filha mais nobre de Esmolfe e, a partir do concelho de Penalva do Castelo, no distrito de Viseu, a sua fama estendeu-se por todos os cantos do país e até além-fronteiras.
A variedade específica do território classificado como “Aldeia de Portugal” surgiu há 200 anos, mas a história do povoado é bem mais antiga, já que diferentes elementos arqueológicos descobertos na região indicam que o local terá sido habitado desde o quarto milénio antes de Cristo. É disso indício a Anta do Penado do Com, classificada como Imóvel de Interesse Público.
Assim habitada desde o Neolítico, esta aldeia entre o rio Côja e o rio Dão sempre se distinguiu por um clima propício à atividade agrícola e dessa aptidão resulta que o território se enquadra em duas regiões demarcadas: a relativa ao Vinho Dão, produzido nessa “Borgonha Portuguesa”, e a referente à Maçã-Bravo de Esmolfe, que é produto com Denominação de Origem Protegida.
Macieiras e vinhas decoram, portanto, a paisagem da aldeia e a respetiva envolvente, mas, em contraste com o verde e outros tons dos pomares carregados de macieiras, há as tonalidades do granito no casario mais tradicional e genuíno de Esmolfe. Os pátios dessas habitações são muitas vezes decorados com esculturas na mesma rocha, que, sendo típicas da região, têm como exemplo de referência o pequeno relógio-de-sol incluído no percurso pedestre “Cenários do Passado”.
Além das suas casas típicas, Esmolfe tem outro ponto de especial interesse turístico no seu património religioso, que não se restringe a templos de arquitetura mais comum como a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e as capelas de Santo Ildefonso e Santa Clara, e que integra também estruturas raras como a necrópole medieval de Esmolfe. Essa é constituída por núcleos localizados nos lugares de Eirinhas, Capela e São Martinho, mas a visita ao conjunto deve ser completada com uma passagem nas sepulturas antropomórficas de Castelo de Penalva, que os pedreiros da época demoravam três dias a escavar na rocha, pelo que o defunto tinha que ser velado por igual período.
Outro ponto atrativo do povoado é o lugar da Paramuna, onde se pode apreciar um antigo castro pré-romano, provavelmente instalado nesse local porque os seus 641 metros de altitude lhe garantiam não apenas uma privilegiada posição defensiva, mas também uma visão impressionante sobre a serra de Esmolfe – igualmente conhecida como Serra da Paramuna.
De construção posterior é a antiga estrada romana que ainda cruza parte do território da aldeia e dá sentido à frase “todos os caminhos vão dar a Roma, já que essa via de pedra foi criada precisamente para facilitar a movimentação de exércitos e mercadorias entre a capital do império e os territórios conquistados.
A par de eventos mais recentes como a Festa da Maçã-Bravo de Esmolfe e a Festa das Colheitas, a aldeia e as suas gentes afáveis são ainda depositárias de um diversificado e valiosíssimo património cultural imaterial. Símbolos maiores dessa herança são a Fogueira de Natal, o Anúncio da Ressurreição, a Colocação das Cruzes, a Chocalhada e o Sermão das Almas. ■