O apelo gastronómico pode ser uma das boas razões para nos levar até Fataunços, pequena aldeia de 750 habitantes situada a cerca de dois quilómetros de Vouzela, sede do concelho. É que, por lá, à mesa, a afamada Vitela de Lafões é o que mais ordena. E também não faltam, claro, os doces regionais, que, dos caladinhos às raivas e gemas (os chamados doces de feira), são símbolos gulosos da identidade gastronómica desta aldeia do distrito de Viseu.
Mas quem lá chega pode ir também por curiosidade histórica, em busca de vestígios arqueológicos de tempos remotos, que os há em abundância em Fataunços. A presença de elementos arqueológicos no povoado remonta à pré-história e é um convite à exploração do património em locais e contextos de grande beleza natural. Próximo do núcleo urbano da aldeia, podem assim visitar-se menires, mamoas, dólmens e outros monumentos megalíticos que testemunham a presença humana nestas paragens há muitos milhares de anos. E vários séculos depois, também os romanos deixaram em Fataunços a sua marca, em cerâmicas e pedras trabalhadas que por ali vão sendo encontradas, sobretudo em terrenos agrícolas.
Neste retrato da aldeia, não pode faltar uma referência a essa figura incontornável que foi o Professor Doutor Aristides Amorim Girão (1895-1960), proeminente geólogo e académico de Coimbra que, originário da pequena povoação de Fataunços, aí desenvolveu importantes trabalhos de escavação arqueológica. Muitos dos monumentos por ele investigados são hoje atrações da região e merecem uma visita mais demorada. É o caso da Mamoa da Seixosa, do Dólmen da Lapa da Meruje ou da Orca da Malhada do Cambarinho, todos muito próximos de Fataunços. O contributo desta figura maior da aldeia acabou assim por dar nome à Associação Cultural Desportiva e Recreativa Dr. Amorim Girão, que realiza pontualmente passeios guiados a todo o património arqueológico das redondezas, entre outras atividades de recriação das tradições locais, como a pisa da uva.
Embora com origens mais recentes, também a arquitetura urbana local apresenta inúmeros motivos de interesse. No jardim da Igreja Matriz de Fataunços conservam-se várias cruzes românicas encontradas na região, mas o que se destaca mais no povoado são as casas solarengas e brasonadas, de aspeto imponente. Esse casario de pedra obedece à traça tradicional beirã, sendo que a maioria das habitações possui dois pisos: o superior para utilização habitacional e o térreo para atividades agrícolas. Nessa paisagem tradicional destacam-se igualmente diversos espigueiros, ainda a uso, apoiados por pequenas eiras.
Os amantes da natureza também não sairão defraudados da visita a Fataunços, podendo encantar-se com a paisagem local num passeio pelo Percurso Pedestre das Poldras ou parar para um piquenique num dos vários parques de merendas da aldeia, todos eles rodeados de verde.
Já os foliões poderão agendar a visita para o tempo do Entrudo, uma vez que Fataunços acolhe o seu próprio cortejo carnavalesco, todos os anos, desde 1976. Outros momentos relevantes da vida comunitária desta aldeia são a festa em honra do padroeiro São Carlos, sempre a 4 de novembro ou no domingo seguinte, e a festa dedicada a Santo Antão, que, a 17 de janeiro, faz acorrer à terra muitos visitantes, atraídos tanto pelos festejos como pela tradicional venda de figos secos, que acontece nessa altura.
Seja pelo interesse do património arqueológico, pela paixão da natureza ou, simplesmente, pelo prazer de provar a comida de conforto que tão bem caracteriza a mesa beirã, não faltam razões para rumar a Fataunços e deixar-se conquistar pelas vivências desta pacata aldeia do interior. É destino para descobrir o quanto antes. ■