Há 5.000 anos, alguém decidiu que determinada zona do atual concelho de Vila Nova de Foz Coa era o local ideal para viver e assim se deu início à construção de um pequeno castelo no território que agora conhecemos como Freixo do Numão. Esta vila do distrito da Guarda ainda hoje preserva vestígios dessa construção muralhada, o chamado Castelo Velho, que, sucessivamente ocupado e abandonado ao longo de milénios, acumulou relíquias como cerâmicas decoradas com cordões e mamilos, restos da madeira das casas que se alinhariam junto às muralhas e resquícios de carvão utilizado para confeção alimentar e aquecimento.
As atalaias calcolíticas do Monte de Santa Eufémia e os abrigos pré-históricos do Vale Ferreiro são outros testemunhos de ocupação antiquíssima, mas é a presença romana que mais está identificada em Freixo do Numão, como comprovado por escavações arqueológicas nas zonas da Casa Grande, do Adro da Igreja e do Largo de São João.
Por toda a localidade há ainda vestígios de casas e villas romanas, assim como de lagares e lagaretas, reveladores da precoce importância da atividade agrícola e da produção de vinho neste território do Douro. A própria igreja matriz de Freixo do Numão é apontada como provável local de um anterior tempo religioso romano, erigido entre os séculos I e V.
Essa dinâmica demográfica terá ajudado a que a povoação agora classificada como “Aldeia de Portugal” se tornasse cada vez mais proeminente e já no século XII ganhasse autonomia face a outras comunidades – inclusive face a Numão, que era o concelho ao qual Freixo pertencia e cujo chamado “Castelo Novo” fora perdendo relevância estratégica.
No início do século XVI já Freixo do Numão era, aliás, a terra mais populosa da região, para o que contribuiu a grande fixação local de famílias judaicas que deixaram Espanha após a reunificação levada a cabo pelos reis católicos.
A dinâmica gerada por essa comunidade explica que Freixo do Numão se mantivesse como sede do concelho até 1855, quando perdeu esse estatuto para Vila Nova de Foz Coa.
É a diferentes períodos dessa história, portanto, que Freixo de Numão deve o seu principal património: o pelourinho com o escudo de D. João V e relevos na forma arbórea de freixos; a antiga Casa da Justiça, com o seu balcão em granito do século XVII; as fontes da Rica e da Carvalha, ambas brasonadas; o chamado Tanque do Sapo, que servia a via romana entre o lugar da Pedra Escrita e o Redoido; a casa de cristãos-novos da Rua Professor Lobão, com a sua janela manuelina; a já referida Igreja Matriz, que era românica por altura dos estragos que sofreu no terramoto de 1755; e várias capelas de estilo renascentista, barroco ou mais recente.
Para conhecer na vila – que tem pouco mais de 500 habitantes dispersos por 36 quilómetros quadrados – há ainda a Cooperativa de Viticultores e Olivicultores, e a Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Freixo de Numão, que, além de gerir um restaurante e um estádio de futebol, reabilitou mais de 100 fachadas de habitações no centro histórico da freguesia e recuperou um solar do século XVIII para o transformar no Museu da Casa Grande.
É certo que a folia invade esta “Aldeia de Portugal” no primeiro fim-de-semana de setembro, para a festa anual em honra da Nossa Senhora da Carvalha, mas o surpreendente é que, com tanto património histórico e cultural, Freixo do Numão se mantenha pacata e tranquila, distinta e altiva no seu casario empedrado com varandas de madeira. É como se houvesse o cuidado de não perturbar a arquitetura e as peças de um quotidiano remoto que, à superfície ou sobre o solo, resistiram séculos e milénios só para preservar até ao futuro pedaços silenciosos da sua longínqua e rica história. ■