Fujaco é todo um postal, no melhor sentido do termo. Basta encontrar-se um ângulo de boa perspetiva sobre a aldeia, a partir do outro lado do monte, e logo se percebe como este povoado disposto por socalcos constitui um postal perfeito de ruralidade, um retrato de tradição, um quadro das origens mais genuínas do país.
Isso deve-se, em primeiro lugar, à arquitetura típica deste povoado da freguesia de Sul, no município quase homónimo de São Pedro do Sul, no distrito de Viseu. Com paredes integralmente revestidas a lascas de lousa e de xisto, as distintivas casas da aldeia parecem ter a cor do chocolate e resguardam-se com telhados que, também eles, são constituídos por lâminas da pedra que mais abunda na região.
Aninhado numa encosta da serra da Lousada, num recanto assim sulcado por ruas e vielas pitorescas, sempre a pedir fotografias, o casario de Fujaco já não tem muita população em idade ativa que o ocupe, mas a aldeia gosta de receber visitas que lhe animem as vistas e tragam conversa fresca à terra. São agrados que tentam compensar a ausência dos mais jovens, que emigraram para o Litoral ou para o estrangeiro e só regressam à aldeia em dias de festa – como a de Nossa Senhora dos Remédios, sempre celebrada a 8 de setembro.
Para a pequeníssima comunidade do Fujaco, o quotidiano passa muito pelo cultivo das hortas e dos campos, que são profícuos devido ao solo fértil e húmido do vale, abundante em nascentes e levas de água. Milho, batata, feijão e vinha são as principais culturas da terra, que dá flores para abastecer a apicultura e ainda alimenta ovelhas e cabras.
Na criação desses animais, dita a prática local que cabritos e cordeiros se fiquem sobretudo pelo curral, enquanto os espécimes adultos são rotativamente entregues a diferentes habitantes da aldeia. O pastor de serviço em cada jornada leva então os animais até ao cimo do monte, onde os deixa pastar sem olhar ao proprietário do terreno, já que as pastagens são e usufruto coletivo.
Quanto à floresta do Fujaco, é composta por castanheiros, oliveiras, pinheiros e sobreiros, entre os quais despontam urzes e giestas. A fauna é de javalis e raposas, doninhas e fuinhas, águias e pequenos roedores.
Os detalhes mais pequenos dessa biodiversidade não serão percetíveis à distância, mas a passagem pelo Fujaco impõe uma visita ao Miradouro de São Macário, que, a mais de 1.000 metros de altitude, proporciona grandes planos e impressionantes vistas sobre o território. Daí se percebe melhor o isolamento da aldeia e se confirma como viver nela é um ato de resistência – o único que garante, dia a dia, a preservação de um pedaço vivo das raízes mais puras do país.
E nas histórias que passam de boca em boca, talvez se descubra a origem dessa resiliência. Conta-se, afinal, que, por aquelas bandas se travou em tempos uma guerra, de cuja frente de batalha um homem desertou. Fugindo, o sujeito foi esconder-se numa fraga. Passaram-se dias e o “fujaco” por lá ficou. Passaram-se meses e o “fujaco” apegou-se à terra. Passaram-se anos e o “fujaco” aí casou.
Fugir pode ser sensato. Fujaco é um final feliz. ■