Terra de barcos e comboios, assim é Macinhata do Vouga. As embarcações fluviais foram as que primeiro deram reputação à aldeia, nela atracando vindas de Aveiro ou da Murtosa, carregadas de telhas, tijolos, madeiras e também sardinha, carapau e berbigão. À chegada, os barcos eram anunciados com pregões e o toque de um búzio; à ida, afastavam-se silenciosos, carregados de pinheiros, carqueja e cereais. Só muito depois é que a linha ferroviária se afirmou no território, percorrida pelo comboio ainda hoje carinhosamente chamado de Vouguinha.
Na origem de tudo estão as águas do rio Vouga, que são as responsáveis pelos terrenos férteis que cedo fixaram populações neste território do concelho de Águeda e distrito de Aveiro. Frequentemente sujeitos a cheias, os campos eram por isso bem adubados e ganharam fama pela sua “matiana”, termo em Latim para o fruto dos pomares de macieiras. Isso explicará os indícios de que a região já era habitada no tempo dos romanos, como testemunha a Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga, erguida numa zona sobranceira ao rio e à própria estrada que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga).
Macinhata do Vouga nem sempre foi, contudo, a freguesia dinâmica que hoje se distribuiu por 40 quilómetros quadrados. Durante séculos, o lugar que se destacou pelo seu progresso era Serém, como evidencia o marco que, junto à antiga pousada, identifica a milha LXXII da estrada construída pelos romanos. Isso valorizou a área e influiu no seu desenvolvimento, contribuindo para que, séculos mais tarde, um foral do rei D. Manuel I tornasse Serém autónoma do então concelho do Vouga e lhe conferisse estatuto de freguesia. Esse lugar continuaria a desenvolver-se com a construção no século XVII do convento local da Ordem de Francisco da Província de Santo António, mas, com a extinção das ordens religiosas em 1834, a localidade inverteria o seu rumo de sucesso e foi nessa atura que Macinhata se impôs, tornando-se freguesia e assimilando Serém.
Mas o grande marco da história da aldeia é a inauguração do segundo ramal da Linha Férrea do Vale do Vouga em 1911, três anos depois do primeiro troço entre Espinho e Oliveira de Azeméis. O comboio passou a fazer parte da vida da localidade e a história dessa relação é dada a conhecer no Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga, cuja coleção integra espólio das companhias da época. Relógios das estações, candeeiros a petróleo, contadores de máquinas a vapor, marcadores de bilhetes e vagonetas são apenas algumas das peças que testemunham uma era muito diferente – que se recria em cada Verão com as viagens no “Comboio Histórico do Vouga”, composto por uma locomotiva a diesel de 1964 e três carruagens fabricadas em 1908, 1913 e 1925.
A par do transporte ferroviário, também cestaria, peças em ferro, faiança e azulejaria se desenvolveram a bom ritmo, ajustando a oferta de Macinhata do Vouga ao seu crescente fluxo de pessoas. A gastronomia registou a mesma evolução, em particular à custa do peixe, mas, até porque o pescado local é agora menos abundante, são as atividades culturais e de lazer que mais atraem novos públicos à aldeia. São disso exemplo as visitas à Igreja Matriz, cuja primeira referência documentada é de 1220, no contexto das inquirições do rei D. Afonso II. Outros atrativos da aldeia são as suas romarias religiosas, os eventos promovidos pelo forte tecido associativo local, as provas de BTT, os passeios pedestres e os desportos radicais. ■