Referência do cancioneiro tradicional português e até de um certo universo rock, graças à sua parceria com a banda GNR, Isabel Silvestre é, à sua maneira, a pop star de Manhouce, refletindo no seu estilo de interpretação vocal a genuína identidade rural dessa aldeia do município de São Pedro do Sul, no distrito de Viseu.
A história da terra, como assim se percebe, assenta na agricultura e na pastorícia. Na fronteira montanhosa entre a Beira Baixa e a Beira Alta, o território tem essas práticas enraizadas desde que recebeu os seus primeiros povoadores e soube desenvolvê-las ao longo de diferentes eras, desde o Neolítico à Idade do Ferro e ao período romano.
Essas origens agrícolas expressam-se na própria etimologia do nome “Manhouce”, que derivará de variações relacionadas com o termo “manho” – para “terra inculta” ou “baldio” – ou “amanhou-se” – para “arranjou-se” e “cultivou-se”.
Entre uma e outra hipótese, certo é que a aldeia foi sendo bem lavrada e sucessivos povos fizeram por merecê-la, o que justifica que há uns 2000 anos já o povoado fosse atravessado pela via romana que ligava Viseu à estrada entre Olisipo e Bracara Augusta. A meio desse caminho, Manhouce era assim local de boa pernoita, o que, atraindo recoveiros e almocreves, ajudou às trocas comerciais e culturais.
Construção em pedra, tecelagem e pintura de azulejos foram ofícios que se desenvolveram ao longo dos anos, muitas vezes embalados por cantigas que nasceram no campo. Dessa relação entre a terra e o trabalho surgem os trajes tradicionais de Manhouce e os seus instrumentos musicais e composições, todos característicos de uma etnografia reconhecida pela sua autenticidade e cadência própria – e estreitamente ligada à cultura de Lafões.
Mas mesmo que entoados por todas as casas de granito e telhado de lousa tão típicas da aldeia, os cantares de Manhouce sempre tiveram como palco privilegiado as festas da região, onde plateias compostas por locais, vizinhos e forasteiros ajudaram a amadurecer o vigoroso tecido associativo da terra. O sentido de responsabilidade associado a essa exposição pública ajudará a explicar o inabalável espírito de interajuda que domina na comunidade e o particular brio da mesma na estética do seu povoado.
E é por isso, que, com ou sem acompanhamento musical, a visita a Manhouce deve honrar também o seu património edificado e natural. No primeiro domínio, há que conhecer a Casa do Arraial, o Cruzeiro da Independência e as pontes da Barreira e sobre a ribeira de Manhouce, ambas construídas sobre prévias travessias romanas. Já na perspetiva da natureza e paisagem, um bom ponto de partida são os miradouros do Baloiço e da Capela, que logo fazem antever os encantos de cinco experiência no território: ir a banhos nas piscinas e poços esculpidos na rocha pela força do Rio Teixeira, fazer canyoning na Ribeira de Vessadas, descobrir a Rota de Manhouce, percorrer a Rota da Água e da Pedra, e – atente-se bem nesta designação – aventurar-se na Grande Rota das Montanhas Mágicas. ■