O sal não nasce apenas no mar e as salinas da aldeia de Marinhas do Sal são prova disso. Localizadas no Vale Tifónico, em pleno Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, estão classificadas como Imóvel de Interesse Público porque constituem a única exploração interior de sal ainda em atividade na Europa a partir de uma mina subterrânea de sal-gema – que é a designação do sal do subsolo, fossilizado, em forma de rocha. A presença de sal a 30 quilómetros da orla costeira e a níveis tão profundos no solo é, portanto, o vestígio da anterior presença do mar naquela região, há muitos milhões de anos atrás.
Tomando de empréstimo o nome do município que as acolhe, as chamadas “Salinas de Rio Maior” são assim o património mais valioso da aldeia de Marinhas do Sal. Esta exploração salina está referenciada em documentos históricos pelo menos deste 1177, mas os especialistas acreditam que o sal-gema da localidade já era utilizado muito antes, por romanos e outros povos que habitaram o território desde a Pré-História.
Com toda essa história, é natural que as salinas sejam o primeiro ponto de interesse numa visita a este povoado do distrito de Santarém. Estão compartimentadas em cerca de 400 talhos feitos de cimento ou de pedra, em tamanhos variados e pouco fundos, e o conjunto dessas estruturas exibe uma geometria própria cuja estética é ainda valorizada pelos reflexos da água e do sal.
Nas alturas do ano em que os talhos estão mais ativos, a água salgada é distribuída por regueiras alimentadas através de um poço ligado à corrente subterrânea da mina de sal-gema. Pela exposição ao sol e ao vento, o processo de evaporação isola então o sal, que, uma vez acumulado no fundo dos talhos, é disposto em pequenos montes até secar completamente e poder ser recolhido para distribuição.
Conhecido o trabalho das salinas, há que descobrir outros recantos desta aldeia rodeada por serra, vinhas, terras de cultivo e floresta, numa envolvência natural muito bonita. O aspeto mais pitoresco de Marinhas do Sal é, contudo, as casinhas de madeira dos salineiros, agora transformadas em pequenas lojas de artesanato, tabernas e restaurantes, proporcionando uma mostra variada de produtos locais e regionais.
No Natal, esse casario ripado ganha novo encanto, com as luzes e as decorações da época, mas o que mais atrai visitantes à aldeia nessa altura é o programa do evento “Presépios de Sal”, em que os protagonistas são cerca de 30 recriações do momento do nascimento de Jesus com recurso a peças esculpidas e moldadas em sal.
A iniciativa é desenvolvida pela Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal de Rio Maior, com o apoio da autarquia, e envolve mais de 30 toneladas de sal em cada ano, só para confeção dos presépios. Mas o programa do evento inclui outras iniciativas, como concertos, animação teatral infantil, passeios de charrete, voos cativos de balão de ar quente e outras experiências, consoante o cartaz e cada edição. ■