“Fraga dos três reinos”. Este é um dos epítetos que também identifica a aldeia de Moimenta da Raia, que, no município de Vinhais, em pleno distrito de Bragança, une e separa terras de Portugal, da província espanhola de Castela e Leão, e ainda do território hispânico da Galiza. O nome do povoado combina a palavra originária do latim “monumenta”, que, em sentido lato, se refere a tudo o que recorda e testemunha o passado, e o termo “raia”, com que as populações transfronteiriças brigantinas se referem a “fronteira” e a idênticas linhas divisórias e de limite. Em sentido literal, a terra ainda exibe como efetivo monumento que guarda memória desses tempos medievais o contraforte do Penedo dos Três Reinos, que há séculos marca os limites entre o que agora são apenas dois países.
Detalhes etimológicos à parte, o facto é que Moimenta da Raia preserva vivências da mais antiga ruralidade portuguesa no sopé da serra da Coroa, em pleno Parque Natural de Montesinho. A envolvente natural desse povoado da Terra Fria está classificada como Reserva da Biosfera e integra a Rede Natura 2000, o que é desde logo garantia de uma biodiversidade rica em fauna e flora de espécies raras e em especial estado de conservação.
Menos frágil é o edificado tradicional da aldeia, cujo casario típico está bem preservado, especialmente no que concerne às construções em granito. É exemplo disso a chamada Cigadonha ou Cigarrosa, castro fortificado da Idade do Ferro que, junto à ribeira de Anta, circundaria há milhares de ano todo o povoado. Isso explicará a calçada de origem medieval que é identificável na zona e cuja observação atenta permite descortinar o traçado de uma construção de planta retangular.
Outro símbolo arquitetónico local é a Igreja Matriz de S. Pedro de Moimenta da Raia, cujas origens remontam ao século XIV, embora o edifício atual resulte de obras efetuadas no final do século XVII. Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1971, esse templo barroco exibe no interior da nave principal vários retábulos de talha dourada, apresenta na capela-mor um teto de caixotões ilustrando diferentes cenas da vida de Cristo e dá a ouvir no adro exterior o gorgolejo da água que há séculos anima o seu fontanário em granito.
Outras fontes decoram, contudo, a localidade classificada desde 2023 como “Aldeia de Portugal” e onde moinhos, fornos, lagares e até uma forja denunciam uma vida comunitária que, em tempos, foi mais partilhada e apostava em recursos que privilegiavam sobretudo o uso coletivo.
Precisamente para recordar uma era em que certo comportamento também foi prática corrente entre a população, Moimenta da Raia tem um Museu do Contrabando que valoriza essa componente da história local. A sua coleção visa dar a conhecer produtos transacionados de forma ilegal entre Portugal e Espanha, assim como acessórios utilizados nos esquemas com que aqueles que viviam do escasso rendimento da terra procuravam obter algum rendimento extra para a família. O museu explora também o património imaterial expresso nos testemunhos e vivências reais da comunidade que, em especial durante o século XX, participou ativamente nesse contrabando.
Depois da visita a esse equipamento cultural, há outras alternativas de lazer: uma ida a banhos na praia fluvial da Feijoeira, um pôr-do-sol no miradouro da Peneda e uma refeição nos hospitaleiros restaurantes da terra, onde se poderão saborear iguarias como feijoada de javali. Consoante o calendário, o programa perfeito remata-se a cantar os reis em janeiro, a comprar fumeiros ou ver a chega de touros na feira franca de abril, e a comer farturas e algodão doce nas Festas de Nossa Senhora do Carmo em agosto. ■