Oliveira do Conde é uma vila histórica que, tendo sido sede do concelho, preserva um notável legado patrimonial, onde as casas antigas, os solares, as quintas e as tradições conseguem conviver com um progresso que ainda não desvirtuou o passado da terra. Com vista para as serras da Estrela e do Caramulo, a freguesia do distrito de Viseu é de particular beleza e mostra-se envolvida por uma especial aura de memória-viva do tempo.
Como testemunho dessa longevidade, a primeira referência é o Circuito Pré-histórico Fiais Azenha, que, disposto por um caminho circular de sete quilómetros, percorre seis sítios arqueológicos que constituem as marcas mais antigas da presença humana no município de Carregal do Sal. Remontando há 6.000 anos, são eles o Complexo Rupestre do Ameal, a Orca da Palheira, a Orca do Outeiro do Rato, o Abrigo da Orca, a Orca de Santo Tisco e ainda o Dólmen da Orca, classificado como Monumento Nacional.
Outro período de relevo na cronologia de Oliveira do Conde é a Idade Média, quando a localidade já era referida no foral do Rei D. Dinis, em 1286, e no Foral Novo de D. Manuel I, em 1516. Entre esses dois períodos, foi construída a Igreja Matriz onde repousa o túmulo de Fernão Gomes de Gois, camareiro-mor de D. João I armado cavaleiro em Ceuta. O seu sepulcro foi esculpido em 1440 e constitui uma obra emblemática do Renascimento português, pelo que desde 1910 está classificado como Monumento Nacional.
Ainda na linha do tempo de Oliveira do Conde, seguem-se as Memórias Paroquiais de 1758, que já então referem o povoado de 150 fogos como localidade importante do território, dada a sua vocação agrícola e o progresso por ela gerado. Essa relevância refletir-se-ia mais tarde na heráldica da vila, em que a oliveira frutada representa o talento da localidade para o cultivo e uma coroa de conde homenageia o nobre galego Peres de Trava, que no século XII recebeu as reputadas terras pela mão de D. Teresa de Leão, filha ilegítima de D. Afonso VI.
Testemunha desse passado rico é também o conjunto arquitetónico composto pelo pelourinho manuelino de Oliveira do Conde, construído no século XVI para assinalar o foral de D. Manuel, e os dois elegantes solares que, uns 200 anos depois, se tornaram vizinhos desse monumento, em concreto a Casa do Juiz e a Casa da Família Soveral. Juntamente com imóveis como a Casa do Visconde, o Solar de Alvarelhos, a Casa dos Buxeiros, a Quinta do Boiço, a Casa de Ruy Pina e a Casa de Cabriz, todo este edificado é um símbolo resiliente da mais distinta nobreza beirã.
Para complementar essa perspetiva, há uma visita que implica sair de Oliveira do Conde, mas que, a apenas cinco quilómetros de distância, no Carregal do Sal, enriquece ainda mais a experiência no Planalto Beirão. Trata-se de conhecer a Casa do Passal, edifício de traça francesa que está classificado como Monumento Nacional por ter pertencido a Aristides de Sousa Mendes, o cônsul que, à revelia das instruções com que Salazar pretendia manter a neutralidade portuguesa durante a II Guerra Mundial, emitiu milhares de vistos para salvar da perseguição nazi mais de 10.000 judeus e outros 20.000 refugiados.
Mas, passando a temática mais festiva, falemos da gastronomia de Oliveira do Conde, que, além de queijos e enchidos, tem como referência o vinho da Região Demarcada do Dão, feito à base de castas tintas como a Roriz, a touriga nacional, a jaen e a alfrocheiro-preto, e de castas brancas como a uva-cão, a encruzado, a barcelo, a cerceal, a malvasia-fina, a bical, a Fernão-Pires e a terrantez.
Esses néctares hidratam, aliás, muitos dos convívios motivados pelas celebrações da terra, desde a Festa do Bussaquito até aos arraiais com marchas populares de São João e São Pedro, passando por cerimónias quaresmais com 300 anos de tradição, como é o caso da Procissão do Senhor dos Passos, a Procissão de São Miguel e o Enterro do Senhor.
Em dias de casas e ruas enfeitadas, com forasteiros sempre a chegar pela Linha Ferroviária da Beira Alta, será natural que muitos dos arranjos florais de Oliveira do Conde sejam em tom de amarelo. Isso é porque Oliveira do Conde se distingue como habitat do narciso da espécie Narcissus scaberulus, que, protegido pela Rede Natura 2000, é raro no país, mas cresce em abundância nesta geografia próxima do vale do Mondego.
Convém usar vestuário quente, como as peças da Serra da Estrela que se vendem na vila, mas, entre finais de fevereiro e meados de março, quando essa planta começa a florir nos campos, é lá que se deve estar, para ver o amarelo despontar entre os verdes e os terras. É um cenário de ímpar e fugaz fotogenia, portanto, em terra de narcisos, seja narcisista: deixe-se fotografar. ■