Embora pequenina com as suas casas caiadas de branco, ornadas por chaminés rendilhadas e alvenaria de pedra e cal, a aldeia algarvia de Paderne é farta e generosa em eventos. Graças a um tecido associativo dinâmico e empenhado, este povoado do concelho de Albufeira, no distrito de Faro, tem uma programação cultural que inclui desde o Carnaval típico e as tradicionais marchas populares até iniciativas como as celebrações do 1.º de Maio, a Mostra do Folar, a Mostra de Artes do Barrocal, a Mostra de Frutos Secos e a recriação histórica “Paderne Medieval”.
Esse último evento constitui uma forma especial de valorizar o património histórico local, cujo ex libris é a ruína de tom avermelhado do Castelo de Paderne, que é um dos sete que estão representados na Bandeira de Portugal. Hoje apontado como um emblemático exemplo de arquitetura militar hispano-muçulmana, foi erguido entre meados do século XII e inícios do XIII, quando terá exibido nas suas muralhas a já perdida técnica construtiva da taipa militar, que privilegiava o uso de cal aérea para garantir maior durabilidade e resistência a estruturas defensivas.
O Castelo de Paderne inspira assim o mais simbólico percurso pedestre desta “Aldeia de Portugal”, que é muito procurada por caminheiros apostados em conhecer um território marcado por vales, fontes, azenhas, ribeiras e por uma fauna e flora que a Estação da Biodiversidade da Ribeira de Quarteira ajuda a destrinçar.
Essa paisagem beneficia ainda do encanto proporcionado pelas histórias da povoação, sejam elas a Lenda das Mouras de Paderne ou relatos mais científicos como os referentes a galerias subterrâneas que, segundo uns, foram abrigo de povos pré-históricos e, de acordo com outros, seriam afinal celeiros mouriscos.
Certo é que o castelo com que muçulmanos controlavam a passagem entre o barrocal e o litoral algarvios foi tomado pelos cristãos no reinado de D. Sancho I, voltou pouco depois a cair sob jugo árabe, regressaria a mãos católicas no século XIII, permaneceria na posse dos cavaleiros da Ordem de Santiago até 1305 e acabaria então doado à Ordem de Avis – para ser quase destruído no terramoto de 1755.
Outros factos e curiosidades sobre Paderne podem descobrir-se na Biblioteca-Museu do Jornal “A Avezinha”, publicação que, embora já extinta, deixou à aldeia um espólio valioso composto por artigos como máquinas de escrever, arquivos fotográficos e milhares de livros que compunham o acervo desse órgão de comunicação da imprensa regional.
Outro espaço cultural de Paderne é a Casa-Museu do Acordeão, que apresenta ao público mais de 1.500 peças relativas a esse instrumento musical típico do Algarve, entre as quais concertinas, manuais pedagógicos, partituras, fotografias de artistas, guarda-roupa cénico e troféus competitivos.
A Igreja Matriz e as ermidas de Nossa Senhora do Pé da Cruz e Nossa Senhora da Assunção são outros pontos de visita, mas o périplo por Paderne só fica completo com observação dos campos que já foram o principal sustento da aldeia e continuam a gerar alguns dos melhores produtos agrícolas da terra – como o milho cuja farinha é o ingrediente-chave do xerém, papa típica que tanto serve de acompanhamento como pode ser prato principal, quando combinada com amêijoas ou berbigão. ■