Disposta pelo concelho de Estarreja e aninhada entre os de Ovar e Murtosa, a vila de Pardilhó evoluiu na companhia das águas, perto das ilhotas da Ria de Aveiro, e a essa localização terá ido buscar o nome, alterado a partir da expressão que indicava a sua posição “a par dos ilhós”.
Essa proximidade à ria explica que bem cedo esta “Aldeia de Portugal” tenha desenvolvido a sua indústria de construção naval, produzindo moliceiros que ainda hoje sulcam as águas com elegância, cumprindo a tarefa única de apanhar esse fabuloso fertilizando natural que é o moliço. Dos estaleiros de Pardilhó saíam ainda navios mercantes, que foram pioneiros no tráfego comercial entre Aveiro e as comunidades ribeirinhas, em especial no transporte de sal e materiais de construção civil.
É certo que hoje já são poucos os “mestres” que ainda se dedicam ao fabrico artesanal dessas embarcações, mas, no Cais da Ribeira e noutros pontos das margens da ria, ainda é comum verem-se homens a aprumar os moliceiros e as bateiras – que são outros barcos típicos usados em Pardilhó para a pesca de linguado, robalo e enguias. Estas últimas são, aliás, uma das iguarias da terra, sejam elas fritas e panadas ou servidas em caldeirada, cujo molho se absorve com as famosas “padas de Pardilhó”.
A generosidade proporcionada pela ria será, portanto, a justificação para que, embora com pouco mais do que 15 quilómetros quadrados, a freguesia de Pardilhó seja habitada por cerca de 4.300 pessoas. E, tal como a flora e a fauna, também a população se ajustou ao húmido habitat local, rentabilizando não só as águas, mas igualmente as terras férteis e húmidas, tão propícias ao cultivo do milho e do trigo.
Atualmente, contudo, a produção agrícola local é sobretudo milheira e começou a ser essa a mais procurada para o fabrico de pão. Face ao preço inflacionado do trigo, as Padas passaram a confecionar-se apenas em datas especiais ou nas casas mais prendadas, e, no quotidiano, a comunidade viu-se a preferir a broa de milho.
Preferências alimentares à parte, o certo é que Pardilhó, ao estender-se pela Ribeira da Aldeia e ainda por inúmeros esteiros, como os de Bulhas, Nacinho e Teixugueiras, proporciona lagunas ótimas para atividades aquáticas como o Stand Up Paddle e paisagens de planura excelente para passeios pedestres e cicláveis como a Grande Rota da Ria de Aveiro e o circuito da Bio Ria.
Bem no centro do povoado, entre o seu edificado arquitetónico, também há património de relevo, entre o qual se destaca a Igreja Paroquial, com a sua traça do século XIX, e as chamadas “casas do estilo Farinhas”. Esse tipo de habitação foi assim denominado em referência a Diamantino “Francisco” Farinhas (1914-1990), que, natural de Pardilhó, emigrou para a Venezuela e lá fez fortuna na construção civil, pelo que, no regresso à terra natal, aí introduziu um estilo de casa próprio, com frentes apalacetadas, varandim superior e janelas de recorte abobadado no topo.
Estas e outras histórias poderão desenvolver-se em conversa com os moradores de Pardilhó, que se mostram particularmente disponíveis para partilhar memórias no mercado semanal dos domingos de manhã – onde se encontra artesanato local como tamancos de madeira e esteiras de bunho – e nas romarias da terra – que são a do Mártir São Sebastião a 20 de janeiro, as festas de Santo António e São Pedro a 13 e 29 de junho, a festa de Nossa Senhor da Rocha no primeiro domingo de agosto e a de Nossa Senhora dos Remédios a 8 de dezembro. ■