Bem-vindos a Penha Garcia, povoação com 750 habitantes que é, desde novembro de 2023, a sede da ATA – Associação do Turismo de Aldeia, que gere a marca “Aldeias de Portugal”.
Atualmente parte integrante do concelho de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, Penha Garcia já foi sede de município e, no tempo de D. Dinis, teve a honra de ser doada à Ordem dos Templários, o que reflete um estatuto administrativo e militar do qual ainda hoje subsistem marcas nas vivências da comunidade.
Não surpreende, pois, que Penha Garcia seja palco de uma feira medieval e de jornadas etnográficas que promovem recriações históricas, cortejos e espetáculos de música e dança cujo mérito comum é recordar aos de hoje a vida da localidade em tempos de outrora.
Quem passa por Penha Garcia encanta-se com o seu casario de arquitetura tradicional, espraiado por entre ruas sinuosas, com todo o burgo concentrado dentro das muralhas do antigo castelo. Muitas dessas casas são construídas no quartzito ruivo típico da região, deixado à vista, e exibem portas e janelas pitorescas emolduradas pelo branco da cal.
Do topo da aldeia avista-se depois uma paisagem natural e bucólica que se estende até ao Rio Pônsul, nas margens do qual resiste, ainda hoje, um admirável conjunto de moinhos de rodízio, que valem tanto pela sua peculiar localização quanto pela sua antiguidade.
O património de natureza é outro dos motivos que fascina na visita a Penha Garcia, como seria de esperar considerando que a aldeia é o berço do Geopark Naturtejo, primeiro projeto português a integrar a Rede Mundial de Geoparques da UNESCO.
É certo que as escarpas do Vale do Ponsul e a Piscina Natural do Pego são atrações por si só, mas a Rota dos Fósseis é o grande cartão-de-visita da região. Aí se preservam inúmeros vestígios do que foi a vida neste lugar há 480 milhões de anos e a população orgulha-se desse património de valor inestimável. Os residentes partilham apaixonadamente o seu conhecimento geológico com quem chega de fora e são eles próprios que sensibilizam os turistas para a necessidade de preservar os icnofósseis – rochas em que movimentações marinhas ocorridas há milhões de anos ficaram gravadas, testemunhando a biodiversidade aquática que em tempos existiu sobre o que é hoje terra firme. Descer a pé da aldeia até ao rio é, portanto, percorrer um caminho com 600 milhões de anos e explorar vestígios antiquíssimos de uma história antes da História.
A Serra de Penha Garcia é ainda considerada uma “Important Bird Area”, que é a nomenclatura inglesa para identificar um local com significância internacional em matéria de conservação de aves. Isso deve-se ao facto de nesse cenário de natureza imponente já terem sido identificadas mais de 125 espécies ornitológicas.
Talvez inspirado pelas aves canoras, o património musical da aldeia também é de importância reconhecida na região e no país. Como exemplo maior desse cancioneiro, a aldeia conserva a memória da cantadeira e adufeira Catarina Chitas, mulher humilde da terra, que, tendo-se dedicado ao pastoreio, se notabilizou pela sua produção musical e deixou ao mundo um vasto repertório de música tradicional e popular da Beira Baixa.
Antes de se concluir a visita a Penha Garcia, impõe-se ainda a passagem por alguns dos seus locais mais emblemáticos. Além do castelo, das muralhas e das ruelas castiças da aldeia, há que conhecer no povoado também o lugar do Pelourinho; o Museu de São Pedro de Alcântara, que na Biblioteca Pires de Campos acolhe o extenso acervo histórico e artístico doado à aldeia pelo padre local; e a Igreja Matriz de Penha Garcia, cuja imagem da Senhora do Leite é uma admirável escultura de pedra executada em estilo gótico pelo mestre João Afonso, no longínquo ano da graça de 1469. ■