Cheia de tradições beirãs e inovações que atraem forasteiros do resto do país, Pindelo dos Milagres é uma gema do município de São Pedro de Sul, com cerca de 400 habitantes dispersos por uma localidade pacata com pouco mais do que sete quilómetros quadrados. Aí se pode apreciar a paisagem florestal desse recanto do distrito de Viseu, o casario típico dos povoados rurais que orlam a emblemática e longitudinal Estrada Nacional 2, a hospitalidade das gentes que ainda tratam a terra e gostam de ver gente nova a passear por lá.
O apego a esse povoado classificado como Aldeia de Portugal é tanto que, mesmo quando as opções de vida dos naturais de Pindelo os levam a viver noutras geografias, sejam elas em território nacional ou no estrangeiro, a dedicação ao berço mantém-se viva, assídua e dinâmica. É disso exemplo a equipa de residentes e emigrantes que, a cada ano, colabora para organizar na aldeia o evento que se tornou o seu ex libris cultural: o festival de heavy metal “Milagre Metaleiro”. Repartindo-se entre uma edição na Páscoa, outra no Verão e ainda iniciativas paralelas dedicadas ao mesmo género musical, o festival aumenta exponencialmente a densidade demográfica da aldeia em cada dia de programação e é inspirador apreciar o convívio que gera entre diferentes grupos sociais – num contraste que facilmente coloca jovens vestidos de couro negro, com tatuagens e piercings, em amena cavaqueira com idosos de boné, acabados de encostar a enxada à saída do quintal.
No resto do ano, quando o povoado serena e regressa ao seu quotidiano normal, torna-se um cenário mais tranquilo, propício a percursos pedestres e visitas a pequenas explorações de fruto.
Alargando-se o passeio da aldeia propriamente dita à freguesia homónima que a acolhe, há também património edificado para apreciar: a igreja paroquial de Pindelo, a capela de Nossa Senhora dos Remédios, o santuário de Nossa Senhora dos Milagres com o seu carvalho centenário, o antigo pelourinho, várias fontes públicas e um parque de merendas ao qual se pode chegar com um piquenique à base da oferta de pão e pastelaria dos produtores locais.
Por perto há ainda para conhecer a povoação de Rio de Mel, cujo nome cheio de imagética justificaria por si só uma visita, mas que é convidativa também pela sua capela de São Domingos e pelo troço de uma antiga estrada romana.
Nesse roteiro cabem igualmente os chamados “moinhos de sumauga”, que, entre as rochas, sinalizam o local onde “se some a auga”, isto é, onde o precioso líquido não se consegue ver, mas se dá a ouvir, circulando em profundidade.
Quanto à gastronomia de Pindelo dos Milagres, respeita a essência da região de Lafões, mostrando-se generosa na vitela assada, nos pratos de borrego e cabrito, no arroz de coelho e, às vezes, até no antigo “conduto” – prato de feijão e batata cozidos com couve e carne de porco, antes do farto tempero de azeite a pedir pão que o ensope bem.
A broa de milho, saída de forno a lenha, acompanha todas as refeições, assim como o vinho caseiro, branco ou tinto, que os mais resistentes ainda produzem com uva americana da vindima caseira. O pão-de-ló guarda-se para o lanche ou para a sobremesa, bem no final do repasto, e, com sorte, seja em que mês for, também haverá rabanadas, a provar que Natal é sempre que alguém o quiser. ■