Porreiras, sim. E, se bem que as paisagens por este território do município de Paredes de Coura sejam porreiras, de facto, o nome com letra maiúscula parece dever-se à forma como evoluiu a pronunciação da expressão “por eiras”, que era um formato medieval de pagamento de impostos. Pagava-se consoante as eiras de que cada comunidade dispunha para secar os cereais; pagava-se assim “por eiras”. E seria tão alto o valor dos impostos desta aldeia que, a certa altura, ela ficou conhecida como “o celeiro do Minho” – estatuto que ainda hoje evoca numa eira comunitária que, com os seus nove espigueiros e quatro alpendres, é o ex-libris da terra.
Na Idade Média, o povoado também era conhecido pela designação formal de “São Miguel de Rabel de Porreiras”, o que seria uma referência ao antigo instrumento de cordas e arco, semelhante a um violino, introduzido na região pelos árabes. Esse nome antigo está citado em documentos do Arquivo Distrital de Braga e surge, em concreto, num título de 1630 que confia a paróquia ao clérigo da vizinha localidade de Padornelo.
Detalhes etimológicos e toponímicos à parte, o certo e atual é que o tão genuíno povoado de Porreiras, na serra da Boalhosa, se carateriza pelo traçado tradicional das suas singelas casas em blocos de granito, dispostas por ruelas pitorescas entre campos viçosos. Complementado com o ar puro da montanha, esse cenário de ruralidade, agricultura, pecuária e silvicultura incentiva passeios entre os terrenos cultivados e a natureza em estado bruto, e o Trilho do Pastor satisfaz ambas as vontades, permitindo a descoberta de recantos de grande beleza.
Ao longo desse percurso pedestre de 11 quilómetros, encontra-se não só a flora e fauna autóctones da aldeia, mas também cursos de água cristalina, áreas de cultivo, núcleos de habitação rural mais isolados e até vestígios arqueológicos como a Mamoa de Porreiras, enquadrada no Parque de Lazer de Agueiros. O mesmo passeio é ainda decorado por cinco moinhos comunitários que a população requalificou e que se mantêm em atividade, constituindo um dos conjuntos de moinhos hidráulicos mais interessantes do Minho.
Para ficar completa, a visita a Porreiras tem ainda que incluir uma passagem na Igreja Paroquial e na Capela da Serra do Pilar, assim como uma refeição no Parque de Merendas do Outeiro, com um farnel feito dos petiscos da terra, que são os enchidos de porco, o bolo do tacho e as filhoses da pedra. Depois, na hora da partida, resta comprar souvenirs para quem mais merece e os mais típicos da aldeia são, sem dúvida, as suas espessas meias de lã. ■