Folião que se preze não pode passar sem conhecer o Entrudo de Quintela de Azurara. Esta aldeia histórica do concelho de Mangualde, no distrito de Viseu, realiza anualmente um dos carnavais mais tradicionais do país e assinala a época com um programa repleto de animação, com características únicas.
Comece-se, pois, por aqui mesmo: todos os anos, quando chega o Entrudo, Quintela de Azurara torna-se ponto de paragem obrigatório para quem deseja conhecer costumes carnavalescos seculares e, nessas festividades, a fogueira, as papas de milho, a sacada e o chamado “Enterro do Entrudo” são aspetos importantes.
A diversão arranca na segunda-feira à noite, véspera do Dia de Carnaval, quando a população se reúne em volta de uma grande fogueira para cantar e dançar, num ambiente de alegria a que ninguém fica indiferente. Mais tarde, as forças retemperam-se com as típicas papas de milho, que ajudam o povo a aguentar-se de pé a noite toda e a zelar pela fogueira, que se quer sempre acesa e com chama alta. Os mais empenhados percorrem assim as ruas a “cantar a madrugada” e nisso se mantêm até de manhã, quando, após um sono breve, começam então os preparativos para a Terça-feira Gorda. Mascarados de velhas, os rapazes solteiros saem à rua com sacos de serapilheira e desafiam os homens casados a entrarem no seu jogo. Vários grupos musicais animam o povoado e nessa folia se vai avançando até à meia-noite, quando finalmente se enterra o Entrudo e o calendário, ao entrar na quarta-feira, dá início ao período quaresmal.
As celebrações neste pequeno povoado de uns 500 habitantes não se quedam, no entanto, pelas folias carnavalescas. Quintela de Azurara tem muitos outros festejos relevantes ao longo do ano, desde o Cantar das Janeiras até à celebração do São Martinho, e isso demonstra que a tradição ainda é o que era nesta aldeia beirã, onde os velhos hábitos e vivências da comunidade se mantêm de pedra e cal.
Um desses marcos no calendário da aldeia é a Visita Pascal, no período da Quaresma. Nessa altura, cozem-se bolos de azeite nos fornos a lenha e, na hora de os servir à comitiva religiosa, na mesa põe-se também o queijo da serra que acompanha esses pãezinhos doces.
Outros pontos-altos de Quintela de Azurara são a festa em honra do mártir São Sebastião, logo em janeiro; a romaria dedicada ao padroeiro local São João Baptista, em junho; o Festival Internacional de Folclore, que em julho traz à aldeia grupos nacionais e estrangeiros; a festa da Nossa Senhora da Esperança, em pleno agosto, quando a população se expande com o regresso dos emigrantes e isso incute um novo ânimo na aldeia; e o Passeio de Motorizadas Clássicas, que em outubro faz desfilar vários modelos de motas raras e antigas pelas ruas pitorescas do povoado.
E como nem só de festas se faz a vida da aldeia, Quintela de Azurara também tem propostas desportivas, já que acolhe o Trail das Três Senhoras e recebe etapas da prova internacional “Graf Adventure Series”. Mais vocacionado para a descoberta sem pressas, há ainda o percurso pedestre “PR1 MGL Trilhos de Ludares”, que se estende por 16 quilómetros de paisagens bucólicas em plena natureza.
Seja qual for o objetivo da viagem até Quintela de Azurara, conhecer esta “Aldeia de Portugal” passa também por apreciar alguns dos seus marcos mais importantes no que toca a património edificado. Por isso, pegue-se na máquina fotográfica e preparem-se os disparos: da antiquíssima Igreja Matriz de São João Baptista, já referida nas Inquirições de 1258, até à bonita ponte medieval, em pedra coberta de musgos, e passando ainda por edifícios como a Capela de Nossa Senhora da Esperança, os Moinhos do Coval, a belíssima Casa de Quintela e a Janela Manuelina de Canelas, há tanto para ver e com que se deixar deslumbrar nesta localidade beirã que o melhor mesmo é fazer as malas e partir à descoberta. ■