Uma encosta em socalcos, sobre eles casinhas de xisto e, lá em baixo, ao fundo, as águas do rio Fílveda, com uma cascata na Frágua da Pena. Bastariam estes elementos para pintar um quadro da aldeia de Vilarinho de São Roque, no município de Albergaria-a-Velha, mas a verdade é que este povoado da freguesia de Ribeira de Fráguas tem aspetos de interesse suficientes não apenas para uma pintura, mas para toda uma exposição.
Encaixada na serra do Arestal, no distrito de Aveiro, esta “Aldeia de Portugal” começa por impressionar pela sua aura de verde intenso, o que advém da forma como o rio torna fértil a floresta envolvente, coberta sobretudo de eucaliptos e pinheiros. As águas borbulhantes do Fílveda explicam ainda a fertilidade deste solo serrano, fazendo brotar da terra uma densa vegetação e gerando abundância nos campos de cultivo.
Nesses terrenos, o milho tem sido rei e, depois de colhido e posto a secar em canastros dos mais genuínos, deixava-se ir a triturar junto ao rio, num dos moinhos de água com caudal sempre corrente por força do açude. O rio abastece igualmente um lavadouro público, onde hoje já não há tantas mulheres a corar e lavar roupa, mas ainda se preservam memórias de muitas horas de conversa.
Com tempo, os passeios pela zona podem fazer-se de forma espontânea ou seguindo o percurso pedestre do Trilho do Linho, com início numa antiga escola primária convertida no Centro de Atividades Radicais e Ambientais de Vilarinho de São Roque. A rota percorre 2,5 quilómetros de caminhos e carreiros que em tempos foram utilizados para se chegar às zonas onde era cultivada essa planta, que, embora com menos impacto económico atualmente, continua a surpreender pelo toque natural e autêntico que as suas fibras conferem à textura de determinados tecidos.
Outro circuito interessante em Vilarinho de São Roque é a Rota dos Três Rios, que, mais extensa nos seus 4,1 quilómetros, acompanha as margens dos rios Fílveda, Caima e Pequeno, dando a conhecer fauna e flora das suas margens, passando ainda na Casa-Museu do Rancho Folclórico da Ribeira de Fráguas, nas Minas do Palhal, no Açude dos Ingleses, em três engenhos de água, uma ponte e um lagar de azeite.
De volta ao centro da aldeia, a atenção desvia-se para o edificado modesto que testemunha a história de Vilarinho de São Roque, cujos primeiros indícios documentais remontam ao século XVI. Há assim para apreciar várias casas rurais em estilo tradicional, um chafariz, umas Alminhas, eiras e espigueiros, e, para uma panorâmica geral, o Miradouro de São Julião, com belas vistas sobre todo o território.
Capelas, a terra tem duas e ambas se engalam em agosto para as respetivas romarias. Uma é a Capela de São Roque, que desde o século XVII é palco da festa anual dedicada ao santo que é padroeiro da terra; a outra é a Capela de Nossa Senhora do Socorro, onde a festa em honra da santa abrange o parque de merendas em torno desse templo no Bico do Monte.
Em dias assim, as mesas da aldeia esmeram-se particularmente. Como prato principal, escolhe-se – ou acumula-se – vitela assada com arroz de forno a lenha, ensopado de vitela ou rojões com grelos. Como doce, saboreia-se – à sobremesa ou noutra ocasião qualquer – regueifas, cavacas e mel. ■