Hoje parte integrante do concelho de Vila Flor, no distrito de Bragança, a aprumada aldeia de Vilas Boas expressa no próprio nome a origem da sua história: segundo a tradição, é um povoado bem antigo, que os romanos identificaram pela quantidade das suas “vilas”, unidades agrárias daquele tempo, e pela caraterística de serem “boas”, dado que as suas terras eram férteis.
Vestígios arqueológicos desse período podem encontrar-se no Monte de Nossa Senhora da Assunção, onde ainda hoje existe um castro que, embora habitado por povos anteriores aos provenientes de Itália, acabaria por ser adaptado aos usos e costumes das tropas do império e assim romanizado.
Ao longo de vários séculos, as diferentes fases de ocupação deste território contribuíram para a sua prosperidade e consolidaram a sua capacidade de autonomia, pelo que, a certa altura, foi constituído o Município de Vilas Boas. Tal autarquia acabaria por ser extinta em 1836, quando povoações vizinhas se impuseram pela dinâmica de novos setores produtivos, mas o passado do território enquanto sede administrativa deixou uma marca que persiste no ordenamento geral do povoado. Isso vê-se, por exemplo, pelo tipo de construção cuidada do edificado local e pela disposição das casas antigas em torno da praça com o pelourinho que exibe as armas de Portugal – e que está classificado como monumento de interesse público desde 1933.
A bonita Igreja Paroquial de Vilas Boas, dedicada a Santa Maria Madalena, é outra referência do património histórico e cultural local: este templo em pedra foi concebido no século XVIII e combina o estilo barroco com um friso da época manuelina, visível na parte posterior da sacristia.
De traços mais modestos, mas num impressionante entorno cénico, há o Santuário de Nossa Senhora da Assunção, que envolve várias capelas dispostas pelo monte com o nome dessa santa, a 760 metros de altitude. O conjunto é considerado o maior santuário mariano de Trás-os-Montes e destaca-se pelo seu escadório monumental, cuja subida dá acesso não apenas a pitorescos bancos de madeira tosca, mas também a pontos privilegiados de observação do horizonte.
Em dias de céu límpido, é possível identificar a partir daí, num raio de 100 quilómetros, povoações como as de Sanábria, Montesinho, Bornes e Mirandela, o que explicará que essa colina de Vilas Boas tenha sido escolhida como ponto de vigia ideal para os povos primitivos que aí se instalaram há milénios – no já referido castro – ainda antes da ocupação romana.
Se nesses tempos toda a construção era de índole manual, hoje o artesanato e os ofícios mais antigos do território estão em risco de desaparecer, mas tanto por Vilas Boas como pelo centro de Vila Flor ainda é possível encontrar rendas e bordados, colchas de linho, mantas de farrapos, cobertores de lã de ovelha, camisolas de malha, tapetes, albardas, ferraria e estatuetas e bonecos em madeira.
Quanto a gastronomia, a terra é de azeite e de vinhos do Porto e de mesa, com boas colheitas da Região Demarcada do Douro. Do pão a lenha a folares e bôla de azeite, passando por enchidos e queijos de cabra e ovelha, chega-se a cabrito e cordeiro assado, rojões, bacalhau cozido, peixe frito e carne de caça, muitas vezes acompanhados com grelos, couve troncha e cogumelos. No final, o travo mais típico não liga à data no calendário: tanto pode ser arroz doce polvilhado com canela como rabanadas. ■