Histórias de navios, desterro e ditadura para recordar em imagens na Marmeleira
A aldeia da Marmeleira, no município de Mortágua, tem patente até outubro a exposição fotográfica “Da Beira-Alta a Timor, o destino da Coragem”, que reúne imagens sobre o contexto a que se viram sujeitos os homens portugueses deportados para a referida ilha do Sudeste Asiático.
A mostra está patente ao público no espaço Raízes e Memórias – Núcleo Museológico da Irmânia, e explora o acervo fotográfico dos irmãos Lopes Pereira, naturais da Marmeleira. Segundo fonte da referida autarquia do distrito de Viseu, António Lopes Araújo e Serafim Lopes Pereira foram deportados devido à sua ação oposicionista à ditadura do Estado Novo, e Basílio Lopes Pereira esteve detido no Tarrafal como preso político.
Castigados a milhares de milhas de casa
“Este acervo fotográfico da deportação política em Timor, de naturais da Marmeleira, é quase único e deve ser mostrado, revelando-nos uma das facetas repressivas da Ditadura”, defende a Câmara de Mortágua. “O sofrimento e o castigo da deportação, a milhares de milhas da Pátria, não se leem no preto e branco [das fotografias], mas levam-nos a vaguear pelas mentes dos prisioneiros, molestadas pelo destempero e insalubridade daquela colónia da Oceânia. Porque para lá de Timor não havia nada mais longínquo”, realça a mesma fonte.
Na mostra pode-se descobrir detalhes sobre navios como o paquete Pedro Gomes, com capacidade para transportar até 440 prisioneiros numa única viagem; conhecer o modo de trajar dos homens condenados ao degredo em Timor, onde os dias se confinavam à ilha-prisão de Ataúro; ver retratos formais das famílias afetadas pelo desterro, em poses que parecem ainda não adivinhar como as decisões de Salazar as afetariam.
Documentos guardados para preservar a História
“O legado fotográfico que os irmãos Lopes Pereira deixaram é invulgar”, defende a organização da mostra, citada pelo diário “As Beiras”. “A sua visão de documentar e deixar para a História o que a História esqueceu denota uma enorme consciência cívica de quem queria mostrar o que lá, tão longe, ninguém via e a ditadura nacional escondia”, acrescenta o jornal.
As imagens reunidas em “Da Beira-Alta a Timor, o destino da Coragem” vão até 05 de outubro complementar a exposição permanente do Núcleo Museológico da Irmânia, que tem curadoria do médico João Paulo Almeida Sousa e explora a realidade vivida na Marmeleira na primeira metade do século XX. Na localidade classificada como “Aldeia de Portugal”, esse espaço distingue-se, segundo a Câmara de Mortágua, pela sua matriz “de combate pelos ideais da República, da Liberdade e da Democracia”. ■