Aldeias de Portugal

Um moinho da aldeia de Boco

Sem assustar Dom Quixote, os moinhos portugueses erguem-se em festa

O herói do romance de Cervantes confundia os moinhos de vento com gigantes de um exército inimigo, mas, de tamanho mais maneirinho, os seus congéneres em solo português, movidos sobretudo a água, não assustam ninguém – antes atraem pelo aconchego que proporcionam e, em alguns casos, pelo seu fresco cheirinho a pão. Os nossos moinhos são memória da labuta rural em tempos sem eletricidade e, a propósito do dia nacional que lhes é dedicado, em Abril são mimados em várias Aldeias de Portugal, que os abrem ao público e dinamizam com diversas iniciativas, para maior ser a festa.

A broa de sabor mais tradicional e textura rica, bem à moda antiga, é um dos principais produtos resultantes da atividade dos moinhos portugueses e, para celebrar o dia dedicado a essas construções tão emblemáticas da ruralidade nacional, é precisamente com uma oficina sobre confeção desses pães que a rede de Aldeias de Portugal dá início à festa. A iniciativa decorre na manhã do dia 7 de abril, consiste num workshop da chamada Broa Mimosa e vai decorrer na aldeia de Boco, no concelho de Vagos, distrito de Aveiro.

Mas esse povoado da freguesia de Soza assinalará a data com mais atividades, como caminhadas pelas levadas do Vale de Boco, sessões de contos infantis, jogos tradicionais, um almoço na azenha e provas de doces de abóbora, rojões e vinhos da Bairrada. Está ainda previsto um passeio por outros moinhos de água da zona, sendo que dois deles se manterão de portas abertas a 7, 15 e 16 de abril para visitas guiadas: é o caso da azenha da família Barreto e da que pertencia à chamada “Ti Luísa”.

Como algumas das atividades previstas para os moinhos de Boco têm um custo de participação e obrigam a reserva prévia de lugares, convém que os interessados assegurem os devidos lugares o quanto antes, consultando o link www.cm-vagos.pt/visitar/moinhos-abertos e seguindo as devidas instruções para inscrição.

Utensílios de um moinho e vestígios arqueológicos de cerâmica

Utensílios usados no moinho e vestígios arqueológicos em barro e cerâmica

Também se vai poder jantar num moinho

Também a 7 de Abril, outras azenhas abrem-se ao público na aldeia da Marmeleira, no município de Mortágua, sendo que 10 dias depois será Ul, em Oliveira de Azeméis, a assinalar a data com uma caminhada ao longo do rio que dá nome a essa Aldeia de Portugal e ainda hoje faz girar a mó do seu moinho.

No mesmo espírito, mas noutro concelho do distrito de Aveiro, também Vilarinho de São Roque celebra o património histórico, cultural e social dos seus moinhos. Igualmente classificado como Aldeia de Portugal, esse povoado da freguesia de Ribeira de Fráguas reserva o segundo fim-de-semana de Abril para as celebrações da Páscoa, mas depois dedica o dia 15 aos seus moinhos e esmera-se no programa. Num dia só, há propostas como a visita aos moinhos de rodízio do Regatinho, uma demonstração de como amassar o pão, um tour guiado pela aldeia, outra demonstração de como colocar a broa no forno, uma caminhada pelo trilho do linho e, ao final do dia, um jantar temático na antiga escola primária da aldeia. Essa experiência gastronómica tem um custo de 10 a 15 euros por pessoa, consoante a idade do participante, e implica reserva pelos telefones 934.757.460 e 914.001.253.

Património com diferentes graus de conservação

Além destas duas localidades, com os seus programas específicos relacionados com o Dia Nacional do Moinho, há mais Aldeias de Portugal onde se pode conhecer estas tipologias de construção – que, em algumas localidades, estão impecavelmente preservadas devido ao esforço coletivo de instituições locais e, noutras regiões, se preparam para acolher obras de beneficiação destinadas a garantir a devida preservação desse património edificado.

Começando pelos moinhos em ruínas, merecem uma visita os da aldeia de Castelo, no concelho de Sátão, distrito de Viseu, pela memória e pelo contraste paisagístico e arquitetónico que representam. Outros moinhos sem atividade, mas visitáveis, são os de Quintela de Azurara, em Mangualde, e de Covelo de Arca, em Oliveira de Frades.

A laborar pontualmente e sempre recetivos a turistas estão, por sua vez, os de Várzea de Calde, no município de Viseu, e os Vilarinho da Castanheira, em Carrazeda de Ansiães. A esses juntam-se ainda os da aldeia de Penha Garcia, em Idanha-a-Nova, que, além de ter esses imóveis visitáveis e ativos, os exibe ainda num estado particularmente bem conservado. ■

 

O moinho de Vilarinho de São Roque é um dos que se associa às celebrações do Dia Nacional dos Moinhos na rede de Aldeias de Portugal

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