Aldeias de Portugal

Procissão fluvial da Senhora dos Navegantes, na aldeia de Areja

Três novas aldeias classificadas e três que renovam o estatuto

A ATA – Associação do Turismo de Aldeia concluiu este Verão o processo de avaliação de seis povoados, três dos quais viram o estatuto de classificação renovado e outros tantos que, pela primeira vez, conseguiram atingir esse reconhecimento. A rede “Aldeias de Portugal” passa assim a distinguir com o seu selo também os seguintes territórios: em estreia, o conjunto de Torre de Bera e Almalaguês, no concelho e distrito de Coimbra, assim como Arzila, no mesmo município, e Silveiro, que pertence ao de Oliveira do Bairro, no distrito de Aveiro; e, quanto a reclassificações, Porto Carvoeiro, no município de Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro, além de Couce e Areja, respetivamente nos concelhos de Valongo e Gondomar, ambos no distrito do Porto.

Em causa estão território com diferente oferta de património e tradições, mas que, em comum, apresentam características das mais genuínas origens portuguesas, no que isso abrange de traça arquitetónica, paisagem rural, história agrícola e laboral, tradições e costumes, gastronomia e artesanato.

Torre de Bera e Almalaguês, com Arzila e Silveiro

Sobre o conjunto das aldeias de Torre de Bera e de Almalaguês, por exemplo, a candidatura da associação de desenvolvimento local Coimbra Mais Futuro destacou o simbolismo desses povoados para a tradição da tecelagem, considerando a reputação de gerações antigas no fabrico de colchas, tapetes e atoalhados, e o esforço das atuais tecedeiras em manter vivo o ofício sem intervenção industrial. No passado como atualmente, já a gastronomia local distingue-se pela sopa à lavrador, a chanfana, os negalhos e o arroz-doce.

Também no concelho de Coimbra, a classificação de Arzila teve como alicerce o seu património de biodiversidade, uma vez que a Reserva Natural do Paul de Arzila acolhe mais de 100 espécies de aves, mamíferos como a lontra e o gato-bravo, peixes como a boga e a enguia, e ainda vários anfíbios e répteis. A valorização da aldeia permitirá preservar a sua história de caça, pesca e colheita do bunho e do junco, plantas com que se produziam esteiras e cestas – muitas vezes usadas para transportar especialidades locais como papas laberças, enguia frita e arroz-doce.

O terceiro povoado classificado pela primeira vez como “Aldeia de Portugal” é Silveiro, em Oliveira do Bairro. A candidatura do Grupo de Ação Local Aveiro Sul, da AIDA – Associação Industrial do Distrito de Aveiro, tanto se destaca pelo seu casario modesto com coreto antigo, moinhos e azenhas, como pela sua biodiversidade, indissociável das marinhas de arroz e evidente em circuitos pedestres como a Rota das Cegonhas e o Percurso Dourado da Grande Rota da Ria de Aveiro. A rematar os passeios por esse território, há ainda o atrativo de leitão, cabidela, chanfana e rojões à moda da Bairrada, acompanhados por vinho ou espumante da região.

O casario de pedra da aldeia de Couce

O casario de pedra da aldeia de Couce

Porto Carvoeiro, Couce e Areja

Quanto às três reclassificações deste Verão, foram todas propostas pela ADRITEM – Associação de Desenvolvimento Regional Integrado das Terras de Santa Maria, cujo território de intervenção abrange, entre outros municípios, o de Santa Maria da Feira, Valongo e Gondomar.

No primeiro caso, o rio Douro é o elemento que mais marca Porto Carvoeiro, que renova a classificação “Aldeia de Portugal” num concelho mais conhecido pelo seu tecido industrial e pelos seus eventos de massas. Este povoado da freguesia de Canedo diferencia-se, contudo, por manter vivos ofícios como a tecelagem e o fabrico de vassouras de giesta, e por se esmerar na confeção de pratos como o arroz de lampreia, o galo caseiro no forno, o cabrito assado e, para remate doce, os almendrados e a regueifa doce.

Também junto ao Douro, Areja volta a ter o selo de “Aldeia de Portugal” em grande parte devido à sua história secular, em que figuram romanos, suevos e godos. Esses povos fixaram-se nesse recanto de Gondomar pela sua paisagem e pela abundância de alimento, ainda hoje celebrada com o Festival Peixe de Rio, que promove a gastronomia local dedicada a espécies como a lampreia, o sável, a tainha e o lúcio. E para que a fartura se mantenha, a principal romaria da terra é a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, com a sua procissão de barco a apelar à boa fortuna de quem vive do que o rio dá.

Em Couce, por sua vez, as fotografias mais frequentes são as que exibem como fundo as casas e muros de pedra dessa aldeia de Valongo, muito aprumada ao estilo antigo, pouco alterado face às origens do local. É devido a essa paisagem, inserida no Parque das Serras do Porto e banhada pelo rio Ferreira, que vários percursos pedestres, equestres e de BTT incluem este povoado na respetiva rota – com a vantagem adicional de os respetivos participantes poderem retemperar forças com biscoitos como os das fábricas Paupério e Diogo, broa de Couce, sopas secas ou pudim de pão. ■

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