Ainda hoje decorada por marinhas de arroz que beneficiam dos terrenos alagados pela Ria de Aveiro, a aldeia do Silveiro foi pioneira da indústria em moagem no município de Oliveira do Bairro, ao acolher as primeiras azenhas já no século XIV. No território ainda se identificam alguns moinhos construídos em pedra e por vezes adjacentes a lagares de azeite, mas, se é certo que essas estruturas foram determinantes para a agricultura da zona, essencialmente destinada à subsistência familiar, o facto é que a lida artesanal dos cereais e da azeitona se foi perdendo para as moagens elétricas e para a produção alimentar industrial. O que continua a resistir na localidade, embora em menor escala, é outro ofício manual de tradição longínqua no tempo: a arte de transformar o bunho em esteira, versátil artigo doméstico que tanto podia servir de base para dormir como funcionar como tapete ou até abrigo de cereais. Ainda há poucas décadas, afinal, rara era a casa do Silveiro que não tivesse o chamado “estaleiro” para trabalhar essa planta herbácea – de nome científico Schoenoplectus lacustris – e uma mulher que aí se dedicasse à confeção de esteiras e cestos.
Hoje esse ofício artesanal está em risco de desaparecer, mas mãos prendadas e resistentes ainda se dedicam a preservar esse saber técnico, do que resultam esteiras que alguns turistas enrolam para piqueniques na zona ribeirinha do Carreiro Velho ou no parque de merendas da Pateira e para pausas em passeios pedestres como o da Rota das Cegonhas e em trajetos cicláveis como o Percurso Dourado da Grande Rota da Ria de Aveiro.
A beleza paisagística da região e a sua biodiversidade terão sido, no século XIX, dois dos motivos a justificar a escolha do Silveiro como local de residência de Augusto Valério Ferreira Pinto Basto, primeiro administrador da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre – que granjeou reputação internacional a partir de Ílhavo, com base na qualidade de produtos como o serviço de louça concebido para a Rainha Isabel II, do Reino Unido.
Na maioria dos dias, é em louça menos valiosa, mas mais acolhedora no seu toque rústico e despretensioso, que este povoado classificado como “Aldeia de Portugal” serve as suas iguarias, sempre marcadas pela gastronomia típica da Bairrada e acompanhadas pelo vinho e espumante dessa região demarcada. Pela mesa dispõe-se assim o crocante leitão, ex libris culinário da zona habitualmente assado em forno a lenha, e também a feijoada da mesma carne, os rojões à moda bairradina, a vitela à Vouga, a chanfana e o arroz de cabidela.
Para sobremesa podem esperar-se várias combinações de doces com ovos moles de Aveiro, pelo que, para facilitar a digestão calórica de tão fartas refeições, se aconselham passeios na aldeia, entre o edificado tradicional do Silveiro, o seu largo com o antigo coreto em ferro, o Centro Cultural Professor Élio Martins, e até os espaços de convívio das coletividades locais, como a Solsil e a União Desportiva, Cultural e Recreativa do Silveiro, que tão bem demonstram o espírito associativo local. É desse que resulta, aliás, a preservação de património cultural imaterial da região, como acontece com o grupo de Cantares do Silveiro, que evoca as raízes da terra com música tradicional popular – presença incontornável na Festa de Nossa Senhora das Dores, sempre celebrada no segundo domingo de setembro. ■